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terça-feira, julho 12, 2011

A porta escondida

Já não era a primeira vez que ao passar naquela rua tinha a sensação de haver uma porta escondida naquela parede do muro. Era visível a forma de uma porta, quase como se eu a pudesse empurrar para ela se abrir. Mas nunca gostei de ser intrusa nem coscuvilheira de mais por isso segui o meu caminho. Ia ás compras, buscar uns legumes, frutas e pão. O dia estava enublado, e a Serra estava toda tapada pelo nevoeiro, o que normalmente num dia de Inverno era sinonimo de chuva, mas num dia de Verão como era o caso tornava o dia um bocado soturno e abafado pelo calor, só muito de vez enquando é que o Sol lá espreitava por entre as nuvens, mas voltava logo a esconder-se. 
De regresso, tive de voltar pela mesma rua para chegar ao carro, os sacos já me estavam a magoar as mãos. Assim que os arrumei dei-me conta de que a rua estava deserta, apesar de estar cheia de carros estacionados, não se via ninguém. Quando vou para entrar no carro e voltar para casa ouço o som de pedras a arrastar no chão e imediatamente olho para o lado, um bloco inteiro daquele muro estava a abrir-se, a tal porta que eu pensava estar escondida estava a mover-se, e ouviu-se o som de alguém do outro lado a fazer bastante força para empurrar aquela porta. Eu baixei-se e fiquei a ver o que acontecia.

De dentro do muro, ou fosse lá o que fosse, saiu uma mulher ruiva, de cabelos brilhantes, compridos e encaracolados, com vestes compridas, azul escuro, e um capuz pela cabeça que lhe escorregou pelos cabelos mal ela voltou a fechar a porta. Parecia que tinha saído de algum filme medieval. Olhou em volta e não viu ninguém, depois olhou na direcção do meu carro, eu congelei, será que ela me tinha visto? 
Tapou os cabelos e desceu a rua, passando por trás das árvores, e ao passar por trás da ultima, as vestes compridas desapareceram, e ela acabou de descer a rua com uma mini-saia, uma blusa branca, e um colete azul escuro, os seus cabelos estavam atados num totó e na mão direita segurava uma pequena pasta de trabalho.  
Entrei no carro, quando já tinha a certeza que ela não o conseguia ver e voltei para casa. Curiosamente lembrei-me que tinha uma entrevista de trabalho à tarde e ainda me faltava fazer o meu almoço, deixar a casa toda arrumada e estender a roupa que tinha deixado a lavar.

Mas quem é que ia acreditar que vi uma mulher sair de um muro e a mudar de roupa tão depressa?

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