Julgo que finalmente não haverá mais discussões por causa do namorado ou por causa das saídas á noite - para o bem de todos também - julgo poder dizer que finalmente terminou a guerra. Ainda pensei que pelo andar da carruagem qualquer dia estaria a escrever algum tipo do género A Guerra - A Bomba Atómica mas felizmente não. As coisas cá em casa mudaram radicalmente desde o dia 6 deste mês.
Para começar foi o dia em que a minha mãe teve aquele acidente que a internou durante uma semana - nunca vi o meu pai tão aflito na vida e creio que ele nunca mais vai usar um corta-relva, pelo menos enquanto não vir a minha mãe a andar novamente - no dia seguinte (dia 7 deste mês) ia começar a trabalhar num café, o mesmo dia em que á tarde tinha de começar a entregar os questionários dos censos. Nessa semana só tive um dia de alguma descontracção no dia de Carnaval, em que fui dar uma volta com o meu namorado, porque de resto o meu horário era levantar ás 5:20h para entrar ás 6h no café, sair ás 13.30h, almoçar - quando havia almoço feito - sair de casa ás 15h até ás 18h e fazer o jantar. Sim, eu estava a dar em doida, porque do nada vejo-me com dois empregos, uma casa para gerir e refeições para fazer, para além de ter que ser um pouco a psicóloga do meu pai e a babysitter do meu irmão e da minha avó, e assim subitamente tudo isso caiu em cima de mim!
No final dessa semana, no dia 14 a minha mãe tem alta e volta para casa, tendo de ficar acamada até o pé cicatrizar, nesse mesmo dia sou despedida do café, e começo a sentir-me apertada em termos de prazos para entregar os census. Agora as minhas preocupações centram-se em ter que cuidar da minha mãe, faze-la sentir-se confortável, tratar da higiene dela - porque ela nao consegue andar nas canadianas para ir ao wc - e fazer as refeições a horas para ela tomar a medicação. Sim, foi duro! Mas tive que me desdobrar como pude para não lhe faltar nada e para que eu pudesse continuar a fazer os censos.
A verdade é que essa semana passou, assim como esta, e agora que já entrámos um pouco no rimo já não nos custa tanto, o que custa que sentir a ansiedade a minha mãe em querer andar e não poder pôr o pé no chão, querer fazer as coisas dela e não poder sair da cama. O que custa é ver a minha mãe a chorar de raiva, de revolta, de medo, de pânico, de solidão, porque mesmo que eu esteja com ela, ela sente-se sozinha, parece um pouco estranho por mais que eu lhe diga que nunca a vou abandonar.
Por isso sim, a Guerra acabou! Acabou porque sei que a minha mãe e o meu pai já aceitaram o João como um membro da familia, acabou porque penso que tudo isto vai fazer com que eles mudem, acabou porque não faz o mínimo sentido estar a pedir para sair á noite enquanto a ela estiver assim. E acabou sobretudo porque eu não gosto de ter estas discussões com os meus pais, e estou convencida que a partir de agora eles me vão entender melhor e vão perceber que não falta muito até eu começar a ter a minha vida com o João. Só falta mesmo o tal emprego estável, afinal parece que assim que terminar os censos, o martírio vai continuar, mas espero que seja super curto porque senão eu juro que vou mesmo á próxima manifestação da geração á rasca e vou manifestar-me contra aqueles que querem empregados descartáveis e que até pagam em dinheiro vivo - os que pagam - para não terem que descontar para a segurança social!
No fundo, se eu for analisar tudo aquilo que nos aconteceu, pode-se dizer que foi uma espécie de bomba atómica que caiu aqui, mas eu não quero ir tão longe, até porque a minha mãe está a melhorar, a ferida está a cicatrizar muito bem, e daqui a duas semanas o médico vai ver como está a correr e em breve acredito que ela comece na fisioterapia, e se o Universo assim o quiser, até ao verão já ela anda nas canadianas e vai fazendo as coisas dela.
Eu sabia que a guerra um dia ia terminar, nem que fosse quando eu saísse de casa, aliás eu achava que esse ia ser mesmo um episódio de discussões e de zangas, mas pelo que me parece, vai ser mais pacifico do que eu esperava. Eu sabia que a guerra um dia ia terminar, só não era preciso ser tão drástico!
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