Estudo avisa que bronzeamento artificial é "cancerígeno". Clientes preocupam-se mais com as rugas.
As conclusões da Agência Internacional dos Estudos do Cancro, que colocou o bronzeamento artificial entre os produtos mais cancerígenos, ao lado do tabaco ou amianto, foram desvalorizadas por quem frequenta os solários. "É mais seguro do que apanhar sol na praia. No meu caso, bastam dez minutos para ficar com um tom saudável", diz Ana Sofia, que antes de ir de férias, prepara sempre a pele num centro de bronzeamento. "Nunca mais apanhei escaldões".
Um argumento fomentado pelos solários, e que ganha cada vez mais força entre as mulheres com menos de 30 anos. as principais clientes, mas "falacioso", diz João Abel Amaro, director do Serviço de Dermatologia do IPO de Lisboa. "A radiação das cabines é mais agressiva porque é emitida a uma distância curta da pele. E como não induz o espessamento da camada córnea da epiderme, em vez de preparar a pele para a exposição ao sol, torna-a mais vulnerável".
O estudo provou ainda que a radiação artificial aumenta em 75% o risco de melanoma (tipo de cancro da pele mais grave); um dado "alarmista", segundo Maria José Cardoso, responsável pelo Solarium Foz, porque é preciso ter em conta o "tempo de exposição e tipo de pele do cliente". Além disso, não é qualquer pessoa que se expõe à radiação ultravioleta dos centros de bronzeamento. A legislação portuguesa já proíbe a utilização dos solários por menores de 18 anos, e alguns espaços fazem uma "triagem", impedindo que grávidas, doentes cardíacos ou medicados com fármacos sensíveis à luz artificial "corram riscos", conta Maria José, mas tem dúvidas que os centros de estética ou ginásios com camas de bronzeamento sejam tão cautelosos. "Já perdi clientes que queriam fazer solário todos os dias, e não me arrependo".
Associar a exposição às lâmpadas solares ao tabaco, por mais irrefutável que seja e até tenha o carimbo da Organização Mundial de Saúde, pode não ser suficiente para afastar a clientela mais jovem dos solários. A palavra cancro não assusta ninguém com menos de 30 anos, de acordo com a experiência de João Amaro. São os sinais de envelhecimento precoce, como rugas, sinais e manchas, que levam os portugueses a "desconfiar das radiações artificiais".
Em Portugal surgem 1000 casos de melanoma maligno por ano, um número que tem vindo a aumentar entre a população jovem, tal como outras doenças de pele, "e que antes só surgiam aos 50 anos". E apesar da predisposição genética e o fototipo da pele (classificação da sensibilidade a queimaduras por exposição solar) serem dois dos factores que explicam o melanoma, os solários têm a sua quota parte de responsabilidade. "É um agente acelerador", explica o médico.
Para a dermatologista Margarida Gonçalo, o problema está no facto de os centros de bronzeamento não quantificarem "a dose total que um indivíduo se expõe nas sessões que faz", alerta a secretária-geral da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia. Razões de sobra para os especialistas separarem estes tratamentos estéticos das máquinas usadas pelos médicos para tratar doenças como psoríase ou acne. Nesses casos, "os raios são doseados em relação ao tipo de pele e problema da pessoa", garante João Amaro.
Quando a estética se sobrepõe aos riscos para a saúde, de pouco valem os estudos. "As jovens, agora, idolatram a Rita Pereira ou a Cláudia Vieira, e elas estão sempre com um tom bronzeado", admite Graça Andrade, booker da Face Models. Apesar de a agência não promover a utilização de solários, há sempre quem exagere. "As raparigas mais novas não ligam se a radiação faz bem ou mal. Só querem um certo tom. É como o tabaco. No maço lê-se que 'fumar mata', mas todas elas fumam", diz. Na L'Agence, evita-se o 'bronze de solário', porque "não é natural, isso reflecte-se no resultado da fotografia", conta João Belo, relações públicas.
A maquilhagem mais escura, assim como os autobronzeadores e a técnica jetbronze (aplicado por micropulverização sobre a pele) são alternativas recomendadas por médicos e sem riscos a longo prazo.
Um argumento fomentado pelos solários, e que ganha cada vez mais força entre as mulheres com menos de 30 anos. as principais clientes, mas "falacioso", diz João Abel Amaro, director do Serviço de Dermatologia do IPO de Lisboa. "A radiação das cabines é mais agressiva porque é emitida a uma distância curta da pele. E como não induz o espessamento da camada córnea da epiderme, em vez de preparar a pele para a exposição ao sol, torna-a mais vulnerável".
O estudo provou ainda que a radiação artificial aumenta em 75% o risco de melanoma (tipo de cancro da pele mais grave); um dado "alarmista", segundo Maria José Cardoso, responsável pelo Solarium Foz, porque é preciso ter em conta o "tempo de exposição e tipo de pele do cliente". Além disso, não é qualquer pessoa que se expõe à radiação ultravioleta dos centros de bronzeamento. A legislação portuguesa já proíbe a utilização dos solários por menores de 18 anos, e alguns espaços fazem uma "triagem", impedindo que grávidas, doentes cardíacos ou medicados com fármacos sensíveis à luz artificial "corram riscos", conta Maria José, mas tem dúvidas que os centros de estética ou ginásios com camas de bronzeamento sejam tão cautelosos. "Já perdi clientes que queriam fazer solário todos os dias, e não me arrependo".
Associar a exposição às lâmpadas solares ao tabaco, por mais irrefutável que seja e até tenha o carimbo da Organização Mundial de Saúde, pode não ser suficiente para afastar a clientela mais jovem dos solários. A palavra cancro não assusta ninguém com menos de 30 anos, de acordo com a experiência de João Amaro. São os sinais de envelhecimento precoce, como rugas, sinais e manchas, que levam os portugueses a "desconfiar das radiações artificiais".
Em Portugal surgem 1000 casos de melanoma maligno por ano, um número que tem vindo a aumentar entre a população jovem, tal como outras doenças de pele, "e que antes só surgiam aos 50 anos". E apesar da predisposição genética e o fototipo da pele (classificação da sensibilidade a queimaduras por exposição solar) serem dois dos factores que explicam o melanoma, os solários têm a sua quota parte de responsabilidade. "É um agente acelerador", explica o médico.
Para a dermatologista Margarida Gonçalo, o problema está no facto de os centros de bronzeamento não quantificarem "a dose total que um indivíduo se expõe nas sessões que faz", alerta a secretária-geral da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia. Razões de sobra para os especialistas separarem estes tratamentos estéticos das máquinas usadas pelos médicos para tratar doenças como psoríase ou acne. Nesses casos, "os raios são doseados em relação ao tipo de pele e problema da pessoa", garante João Amaro.
Quando a estética se sobrepõe aos riscos para a saúde, de pouco valem os estudos. "As jovens, agora, idolatram a Rita Pereira ou a Cláudia Vieira, e elas estão sempre com um tom bronzeado", admite Graça Andrade, booker da Face Models. Apesar de a agência não promover a utilização de solários, há sempre quem exagere. "As raparigas mais novas não ligam se a radiação faz bem ou mal. Só querem um certo tom. É como o tabaco. No maço lê-se que 'fumar mata', mas todas elas fumam", diz. Na L'Agence, evita-se o 'bronze de solário', porque "não é natural, isso reflecte-se no resultado da fotografia", conta João Belo, relações públicas.
A maquilhagem mais escura, assim como os autobronzeadores e a técnica jetbronze (aplicado por micropulverização sobre a pele) são alternativas recomendadas por médicos e sem riscos a longo prazo.
O QUE DIZ A OMS
A Agência Internacional para Estudos do Cancro, que emite recomendações à Organização Mundial de Saúde, classificou as máquinas de bronzeamento artificial como "cancerígenas".
Até agora, as radiações artificiais dos solários estavam classificadas no Grupo 2, o que significava "provavelmente cancerígenas". Os autores do estudo reavaliaram o risco e incluíram-nas no Grupo 1 dos produtos cancerígenos para o homem, ao mesmo nível do arsénico, tabaco, bebidas alcoólicas e radiações solares.
Até agora, as radiações artificiais dos solários estavam classificadas no Grupo 2, o que significava "provavelmente cancerígenas". Os autores do estudo reavaliaram o risco e incluíram-nas no Grupo 1 dos produtos cancerígenos para o homem, ao mesmo nível do arsénico, tabaco, bebidas alcoólicas e radiações solares.
Texto publicado na edição do Expresso de 15 de Agosto de 2009